Por Betto Mariano – A Voz das Cidades
A sessão da Câmara de Jales desta segunda-feira teve de tudo: discurso inflamado, contradições, ataques à imprensa e, claro, mais uma cena digna do personagem já conhecido pelos bastidores políticos como o “profeta das diárias”.
O presidente da Câmara, Bruno de Paula, parece ter exagerado na dose — não de Gardenal, mas de autopromoção e contradição. Em um tom de quem mistura indignação e descontrole, Bruno partiu para mais um ataque público, desta vez mirando em todos os lados: na imprensa, no Ministério Público e, surpreendentemente, no próprio prefeito que o ajudou a chegar ao poder.
O discurso do desequilíbrio: “A imprensa da base que ataca a base?”
No início de seu pronunciamento, Bruno disparou contra o que chamou de “imprensa da base que ataca a base”.
A frase, além de confusa, parece revelar um colapso lógico: afinal, que “base” é essa que ataca a si mesma? A base da Câmara? Do prefeito? Ou seria a base dos interesses pessoais de Bruno de Paula?
A suposta “defesa” transformou-se num espetáculo de contradições. Entre um ataque e outro, o vereador procurou exaltar o trabalho dos pares, afirmando que “enquanto vocês batem, nós trabalhamos”.
Difícil saber se o “trabalho” citado é o das viagens caras — aquelas que o Ministério Público decidiu investigar após denúncia de farras com diárias — ou o da retórica de vitimização, que já se tornou marca registrada do parlamentar.
A segunda facada no prefeito
Se alguém ainda duvidava do rompimento entre o vereador e o prefeito, a dúvida acabou. Em um gesto que misturou autoproteção e ataque, Bruno de Paula confessou publicamente ter mandado investigar o prefeito e seus assessores por gastos com diárias.
A fala soa como uma espécie de autoconfissão de prevaricação, já que, segundo o próprio Ministério Público, “todos” — Executivo e Legislativo — já estavam sendo investigados desde a denúncia inicial.
O que Bruno tenta agora é deslocar o foco das acusações sobre si, jogando o holofote sobre o Paço Municipal.
Ou, como se diz nas mesas de bar, o vereador resolveu levar companhia para o banco dos réus.
A tentativa de inverter o jogo: o “custo-benefício” das diárias
Tentando justificar seus gastos, Bruno fez um cálculo curioso: disse ter gastado o equivalente a 24 salários mínimos em diárias, mas que isso teria resultado em R$ 1,65 milhão em recursos conquistados para Jales — uma “taxa de eficiência” de 2,08%, segundo ele.
Só faltou explicar como esses valores foram obtidos e, mais importante, se esses recursos realmente chegaram aos cofres públicos ou apenas foram promessas políticas.
A justificativa soa tão convincente quanto o vendedor que garante ter ficado rico comprando bilhetes de loteria.
A “batalha dos números” e a cortina de fumaça
Para tentar inverter o jogo, Bruno apresentou uma “comparação” com o Executivo, listando valores supostamente pagos a cargos comissionados da Prefeitura:
- 
	
Chefe de Gabinete: R$ 60 mil em diárias (40 salários mínimos)
 - 
	
Procurador Geral: R$ 56 mil (37 salários mínimos)
 - 
	
Motorista do Prefeito: R$ 51 mil (34 salários mínimos)
 
Mas o que ele “esqueceu” de mencionar é que os dados do Executivo são públicos e já estão sob investigação do MP, a partir da mesma denúncia que envolve o próprio Legislativo.
Ou seja: Bruno não revelou nada novo — apenas tentou criar uma cortina de fumaça para desviar o foco da investigação que recai sobre ele e seus colegas de Câmara.
O veneno da cobra que o prefeito criou
O episódio confirma o que muita gente já previa: o prefeito de Jales criou a cobra que agora o pica.
Bruno de Paula, outrora aliado fiel e defensor incondicional, tornou-se o algoz político mais perigoso dentro da própria base.
Em vez de apaziguar, ele prefere o confronto.
Em vez de prestar contas, atira pedras.
Conclusão: o profeta das diárias e o sermão do caos
A cada nova sessão, o “profeta das diárias” parece mais disposto a transformar o plenário em palanque e a Câmara em confessionário — onde confessa apenas o que lhe convém.
Enquanto a cidade espera respostas sobre as irregularidades, Bruno oferece espetáculo.
E no teatro político de Jales, fica claro que a peça está longe do fim — mas já dá para saber quem faz o papel do vilão, quem o do inocente, e quem está apenas rindo do camarote, com o bilhete das diárias na mão.