Por Betto Mariano
O velho ditado "uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto" nunca esteve tão vivo na política brasileira. Em Santa Fé do Sul, temos um exemplo clássico da prática: três vereadores e um secretário municipal assinaram, espontaneamente, declarações atestando a “idoneidade” de um blogueiro condenado por diversos crimes — e reincidente.
A tentativa desesperada de escapar do desgaste moral e eleitoral veio logo em seguida: alegaram terem sido "enganados". Difícil acreditar nessa versão, considerando que o histórico do blogueiro é vastamente conhecido, com centenas de reportagens, processos e condenações documentadas ao longo dos anos. A desculpa soa mais como confissão de omissão — ou pior, de conveniência.
O cenário ficou ainda mais grave após surgirem suspeitas de que papéis com o timbre oficial da Câmara Municipal teriam sido supostamente confeccionados fora da instituição para dar aparência de legalidade às declarações — o que, teoricamente, configuraria a falsificação de documento público. Mesmo assim, um pedido de cassação movido por um advogado foi rejeitado por unanimidade na Câmara. O detalhe do "timbre" virou quase uma irrelevância. O mérito principal — a assinatura e o apoio a um condenado — foi jogado para debaixo do tapete.
O episódio deixa clara a velha máxima da política nacional: a lei e a justiça são aplicadas com rigor apenas contra os "inimigos"; para os amigos, valem favores, desculpas esfarrapadas e o empurrão com a barriga até o eleitor esquecer.
E ele, infelizmente, esquece.
Exemplos históricos não faltam. Basta lembrar de Fernando Collor de Mello: o homem que feriu mortalmente a classe média e os pobres com o confisco da poupança, caiu após denúncias de corrupção feitas pelo próprio irmão e pelo operador PC Farias. Mesmo assim, voltou como senador da República, como se nada tivesse acontecido — apenas para, anos depois, ser preso novamente, desta vez por corrupção ativa e recebimento de propinas que ultrapassam a marca de 20 milhões de reais.
Assim segue a política: entre votos comprados com churrascos, gasolina, promessas vazias e favores de ocasião, os maus políticos se perpetuam.
E, ao final de tudo, resta ao eleitor — aquele mesmo que vendeu seu voto ou fechou os olhos — desabafar nos bares, nas esquinas ou nas redes sociais: "Esses políticos são todos ladrões".
Esquecendo-se de que foi ele, o eleitor, quem os colocou lá.