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PACIENTE VÍTIMA DE TRAUMATISMO TEM CALOTA CRANIANA ‘GUARDADA’ NO ABDÔMEN



FOTO ILUSTRATIVA

A história do pedreiro Onias Brito da Silva, 61, que se recuperou de maneira surpreendente e recebeu alta médica após suspeita de morte cerebral, não é impressionante só por ter sobrevivido a uma violenta agressão praticada por um colega de trabalho, que está preso.

 

A vítima, que hoje se recupera em casa, está com a calota craniana alojada no abdômen.

Embora pareça algo inusitado para leigos, o procedimento, chamado craniotomia descompressiva, é relativamente comum na prática médica.

De acordo com a neurocirurgiã Raquel Zorzi, a operação pode ser indicada em casos de AVC e traumatismo craniano grave, como foi o caso do pedreiro.

“No traumatismo craniano grave a parte lesionada do cérebro pode inchar. Só que quando o cérebro incha, ele não tem para onde crescer, porque o osso é duro e não cede, impedindo que ele tenha espaço para isso. Ao tirar uma parte do osso do crânio, o neurocirurgião abre espaço para que o cérebro doente e lesionado tenha para onde ir, sem que com isso ele aperte e afete o restante do cérebro que está normal, situação que agravaria ainda mais o quadro do paciente”, explica em seu blog.

“Quando o osso é retirado, ele pode ser jogado fora ou guardado para posterior recolocação. Geralmente o osso é guardado no próprio abdômen do paciente. Abaixo da pele este osso é mantido estéril, protegido e nutrido pelo próprio organismo do paciente”, continua.

Ainda de acordo com a especialista, o ideal é que a calota seja retirada e recolocada no período de até três meses, sob o risco de o próprio organismo “digerir” o osso.

É o tempo necessário para que a vítima se recupere do edema e possa ser submetida a uma nova cirurgia.

A reportagem tentou entrevista com a equipe médica que realizou a operação do paciente, mas a informação é que ela não está autorizada a comentar casos específicos tratados no hospital.

Entretanto, a Gazeta teve acesso ao laudo pericial produzido pelo Instituto Médico Legal a partir da ficha clínica fornecida pelo HB à Polícia Civil.

O documento relata que o pedreiro deu entrada intubado, com pupilas não reagentes e ferido gravemente na cabeça. Boletim de ocorrência registrado no dia do crime informa que a primeira médica que atendeu o homem, no posto de saúde de Bady Bassitt, suspeitava de morte cerebral.

Onias foi submetido a uma cirurgia de emergência, que durou seis horas, para descompressão do cérebro. No mesmo procedimento, foi realizada uma incisão no abdômen para guardar a calota craniana.

No dia 3 de novembro ele já estava acordado e, no dia 8, interagindo com o especialista.

Um dia antes de completar um mês de internação, o pedreiro recebeu alta médica com a indicação de repouso absoluto, sem visitas, e acompanhamento periódico no ambulatório de neurocirurgia.

A reportagem tentou contato telefônico com Onias nesta quinta-feira, 25, mas não conseguiu falar com ele ou qualquer familiar.

O delegado de Bady Bassitt, Jonathan Marcondes Stopa, indiciou o pedreiro Adriano Santos de Oliveira por lesão corporal grave.

“Precisei concluir o inquérito antes de ouvir a vítima. Por se tratar de flagrante, tinha o prazo de apenas 10 dias para relatar. Então a vítima será ouvida diretamente em juízo”, explicou.

Sobre a recuperação do homem, o delegado disse que Onias demonstrou uma “resistência admirável” por se tratar de pessoa com mais de 60 anos.

O inquérito está agora com a promotora Ana Beatriz Silveira, que vai analisar o laudo pericial para decidir se concorda com o enquadramento ou se denuncia o agressor por tentativa de homicídio.

Segundo o boletim de ocorrência, Onias foi agredido na cabeça com um enxadão pelo encarregado Adriano, durante um desentendimento no dia 18 de outubro. O crime aconteceu na obra em que os dois trabalhavam.


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