O tempo é um mestre silencioso — muda tudo à sua maneira, sem pedir licença e sem olhar para trás. No mundo em que vivemos, a mudança é a única constante, e negar esse movimento natural é travar uma batalha interior inevitável.
As gerações se sucedem como estações, cada uma com seus códigos, seus costumes, suas verdades. De Baby Boomers a Geração Y, Z e além, cada ciclo da vida redefine o que é comum, o que é certo e até mesmo o que é lembrado. O que para uns era rotina, para outros sequer tem referência.
Tomemos como exemplo Jales, e a eterna discussão sobre onde a FACIP deveria ser realizada. Para muitos, havia um “lugar certo”, fixo, com alicerces, muros e história. Hoje, no entanto, o cenário mudou. As estruturas surgem do nada e desaparecem como mágica, adaptadas à lógica do tempo moderno — prática, passageira, efêmera. E as construções edificadas, aquelas de concreto e lembrança? Ainda resistem… mas por quanto tempo? O tempo é implacável — e também as apagará do hábito coletivo.
E o que dizer dos velórios de 24 horas? Quem já enfrentou uma madrugada diante de um ente querido sem vida, sabe como o tempo se arrasta — os ponteiros parecem imóveis, e a esperança, ausente. A noite se alonga em dor até que o sol rompa o luto do céu.
Veio a pandemia da COVID-19 e com ela, um corte abrupto nos costumes. Os velórios longos foram proibidos, e mesmo após a tempestade sanitária, o costume não voltou mais como antes. Não houve decreto, nem lei municipal — houve o efeito do tempo, da adaptação, das novas prioridades.
As grandes cidades já haviam abandonado os velórios noturnos muito antes da pandemia, por medo da violência, por custo, por praticidade. Em Jales, talvez o mesmo tenha ocorrido de forma natural: o peso de manter pessoas pagas pela Prefeitura durante as madrugadas, os custos das funerárias, a necessidade de reorganizar a logística da dor. O costume mudou — e com ele, mais uma página virou no livro invisível do tempo.
Aos que insistem em lutar contra essas mudanças, resta o fardo de uma dor solitária: a de não aceitar que o tempo também transforma os rituais do adeus.
O tempo muda o tempo todo. E às vezes, aceitar isso é o nosso maior desafio — e também a nossa mais sábia rendição.