Direito

O TCC de uma aluna da Universidade Brasil, Campus de Fernandópolis-SP, orientada Pelo Professor André de Paula Viana foi utilizado como base de consulta em uma matéria sobre os filmes lançados da Suzane.



"Um trabalho acadêmico feito por Bruna Pereira Torres no curso de Direito na Universidade Brasil Campus Fernandópolis/SP mostrou que os laudos de Suzane não lhe são favoráveis juridicamente. Isso porque ela, apesar de se dizer arrependida do crime que cometeu, nunca aborda o fato de perder os seus pais como motivo de arrependimento."

"O estudo feito na Universidade Brasil, no entanto, vê certeza de que Suzane não é delirante e nem psicótica, mas que há indícios de ser manipuladora e dissimulada. Portanto, como boa parcela dos psicopatas, Suzane tem consciência entre o que é certo e errado, mas até o momento não existe afirmação concreta de um quadro de psicopatia."

“A Menina que Matou os Pais”: qual é a verdade sobre o crime?

Algumas cenas dos dois filmes condizem 100% com o que de fato aconteceu, outras nem tanto.

Os filmes “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou meus Pais” têm sido um sucesso da Prime Video, sendo a produção que mais cresceu no Google na última semana e tendo grande repercussão nas redes sociais. Os dois longas-metragens contam a história do assassinato dos pais de Suzane von Richtofen (interpretada por Carla Diaz), Manfred Albert von Richthofen e Marisia von Richthofen.

Em “A Menina que Matou os Pais” é contado a versão de Daniel Cravinhos (interpretado por Leonardo Bittercourt) sobre o caso. Ele era namorado de Suzane e foi o autor do assassinato junto de seu irmão, Cristian Cravinhos. Em seu relato, sua companheira é apresentada como uma garota gentil e simpática, mas com comportamentos peculiares e que fazia uso abusivo de drogas.

Na versão de Daniel, Suzane falava na morte dos pais constantemente, já que eles eram muito rígidos nas regras de convivência e tinham uma cobrança excessiva nos estudos para passar em uma faculdade renomada. Manfred e Marisia tinham um poder aquisitivo considerável, viviam em uma casa luxuosa e faziam viagens pelo Brasil e Europa.

Daniel conta que os pais nunca aprovaram o seu namoro com Suzane, principalmente pelo fato de ser de classe média baixa e não cursar faculdade. Mas Andreas von Richtofen, irmão de Suzane, era fascinado por aeromodelismo e recebia aulas de Daniel (foi assim que Daniel e Suzane e conheceram, inclusive).

“A Menina que Matou os Pais”, portanto, mostra a história de uma garota rica, com problemas psicólogos e que fazia abuso no uso de drogas, com pais muito exigentes que reprovavam o seu namoro. Daniel ainda conta que Manfred, além de ser infiel no casamento, abusava sexualmente de Suzane desde os três anos de idade. E ainda, segundo ele, Marisia mantinha um relacionamento extraconjugal com uma amiga e sabia da infidelidade de seu marido.

Por fim, na versão de Daniel, Suzane é quem convence os irmãos Cravinhos de matar seus pais para, assim, ficar livre de toda a pressão que sofria e poder ficar com a herança para viver bem com o seu namorado. Portanto, ela teria arquitetado todo o crime, enquanto os dois autores do crime ficavam receosos.

“O Menino que Matou meus Pais”

Já no segundo filme, a versão de Suzane da história é contada. Ela coloca Daniel como um homem que lhe forçava a usar drogas em um relacionamento tóxico, com um abuso psicológico em cima dela para poder ter sexo e usufruir do dinheiro da família von Richtofen.

Suzane não confirma a história de abuso com o seu pai, apenas contou que Manfred era muito exigente e a pressionava, chegando a dar um tapa em seu rosto em um jantar com a família. Quanto à sua mãe, ela a retrata como uma grande amiga, com quem conversava e tinha uma relação bem próxima.

“O Menino que Matou meus Pais” mostra uma garota ingênua que fazia de tudo pelo namorado e que foi convencida por Daniel a participar do crime, que ele mesmo arquitetou.

O crime aconteceu no dia 31 de outubro de 2002. Inicialmente, o caso foi tido como latrocínio, mas dez dias depois eles confessaram o crime. Suzane von Richtofen e Daniel Cravinhos foram condenados a 39 anos de prisão e Cristian a 38 anos e seis meses.

Qual é a verdade sobre o crime?

"A Menina que Matou os Pais": qual é a verdade sobre o crime?

Foto: Reprodução/Internet

1 – Quem planejou o crime

Existem algumas cenas dos dois filmes que condizem 100% com o que de fato aconteceu, outras nem tanto. O crime foi arquitetado durante dois anos e formas de homicídio foram pensadas antes de chegarem a ideia de utilizar barras de ferro, como incêndio no sítio da família e cortar os dutos do freio do carro. A cena do filme em que Daniel enrola um pedaço de concreto com edredom e, no quarto dos Richtofen, atira com uma arma de fogo contra o material é verdadeira.

Porém, em uma das cenas do filme, Suzane está abraçada com o namorado, olha para um avião no céu e diz “seria bom se o avião com meus pais explodisse”. Apesar da cena ser impactante, na realidade, a jovem fez tal sugestão enquanto estava na piscina com Daniel, quando Manfred e Marisia estavam viajando.

2 – Abusos do pai

Quanto aos abusos do pai, relatado por Daniel, que também contou sobre o alcoolismo de Manfred, o jornalista e autor do livro “Suzane: assassina e manipuladora”, Ulisses Campbell conta que a história é complexa. Suzane teria chegado a desistir de matar a mãe, após um momento de cumplicidade entre as duas, quando Marisia havia descoberto a infidelidade de Manfred. Com isso, Daniel teria ameaçado se matar por não conseguir manter um relacionamento em paz com a jovem, o que fez Suzane inventar a história do abuso para convencer os irmãos Cravinhos que tinha voltado atrás.

Andreas, irmão de Suzane, desmentiu sobre o fato de que o pai era violento ou alcoólatra, mas confirmou o episódio em que Manfred deu um tapa no rosto de sua filha e a ameaçou deserdar Suzane caso ela não terminasse o relacionamento com Daniel.

 

3 – Sexo e drogas

O sexo entre Daniel e Suzane está frequentemente relacionado com o uso de droga. Para ele, por uma questão psicológica de sua namorada. Para ela, porque seu namorado a forçava a usar. Campbell conta em seu trabalho que conversou com muitos amigos de infância de Daniel e todos disseram que ele era ingênuo quando o assunto era relações sexuais. Ele se recusava a ir em casas de sexo e perdeu a virgindade com Suzane.

Mais um fator que depõe contra Suzane é que Daniel passou nos testes de avaliação psicológica que lhe deu o direito ao regime aberto sem dificuldade. Ela, no entanto, não conseguiu o mesmo feito e foi avaliada por psicólogos que acompanham o caso como “manipuladora”.

Suzane von Richtofen é psicopata?

A avaliação psicológica de Suzane von Richtofen é alvo de muita pesquisa e análise de especialistas. O exame psicológico que ela passou para a avaliação da possibilidade de um regime aberto se chama Rorschach. Ele serve para que possa ser analisados aspectos de personalidade, e características do indivíduo que porventura possam não transparecer nitidamente. Suzane foi reprovada em todas as vezes que passou pelo teste, mesmo com seu advogado a entregando um manual de estudos sobre o referido exame para que pudesse compreendê-lo melhor e ter melhor desempenho.

Um trabalho acadêmico feito por Bruna Pereira Torres no curso de Direito na Universidade Brasil Campus Fernandópolis/SP mostrou que os laudos de Suzane não lhe são favoráveis juridicamente. Isso porque ela, apesar de se dizer arrependida do crime que cometeu, nunca aborda o fato de perder os seus pais como motivo de arrependimento.

“Ela sempre pauta as causas pessoais como o quanto perdeu boas oportunidades de vida. Suzane não consegue estender sentimentos para ninguém além dela mesma. São nítidas as características narcisistas e egocêntricas da criminosa”, diz o estudo.

Mesmo com comportamentos característicos de pessoas que têm problemas com a psique, não há afirmação clínica concreta que afirme se de fato ela é ou não uma psicopata (sociopata). O estudo feito na Universidade Brasil, no entanto, vê certeza de que Suzane não é delirante e nem psicótica, mas que há indícios de ser manipuladora e dissimulada. Portanto, como boa parcela dos psicopatas, Suzane tem consciência entre o que é certo e errado, mas até o momento não existe afirmação concreta de um quadro de psicopatia.

Outro fator que mostra o traço de personalidade de Suzane é o fato de ela ter contado em seu depoimento ter vivido “um dia normal” na data do assassinato, tendo almoçado com a mãe, levado o irmão ao inglês e vivendo uma rotina normal, sem indícios de nervosismo. A jovem ainda fez um passeio no shopping com Daniel para escolher um óculos de sol que ela o daria de aniversário.

"A Menina que Matou os Pais": qual é a verdade sobre o crime?

Foto: Reprodução/TV Record

Outro relacionamento de Suzane

Em meados de 2010, Suzane começou um relacionamento na cadeia com Sandra Regina Ruiz, conhecida como Sandrão, presidiária que foi condenada por sequestro e assassinato de adolescente, que inclusive namorou Elize Matsunaga, condenada por ter assassinado e esquartejado o marido, Marcos Matsunaga.

Suzane e Sandrão chegaram a se casar em outubro de 2014, mas o relacionamento chegou ao fim por conta de um conflito na decisão de quem ficaria com as três máquinas de costura, avaliadas em R$ 12 mil, que Gugu Liberato deu de presente. Cada uma tem uma versão sobre quem deveria ficar com tais itens.

Como Suzane e irmãos Cravinhos estão hoje

Suzane von Richtofen está no regime semiaberto desde outubro de 2015 e  foi autorizada pela Justiça a cursar faculdade de biomedicina em uma universidade em Taubaté, cidade vizinha a Tremembé, no interior paulista, onde ela cumpre a pena. Na época do crime, ela tinha 18 anos e estudava direito.

Daniel Cravinhos conseguiu o regime semiaberto em 2013 e depois seguiu para aberto em 2018. Com isso, ele cumpre o restante da pena em liberdade e está casado com Alyne da Silva Bento, filha de uma biomédica que trabalhava com Daniel na cadeia.

Cristian Cravinhos, além da condenação de 38 anos e seis meses pelo assassinato do casal Richthofen, foi condenado novamente por uma confusão em um bar. Ele foi preso e denunciado por supostamente agredir uma mulher em um bar em Sorocaba (SP) e também ter sido flagrado com uma munição de uso restrito. Na época, os policiais que atenderam a ocorrência disseram que o réu chegou a tentar subornar os militares para não ser preso e não perder o benefício do regime semiaberto que havia conseguido poucos meses antes.

Na detenção, Cristian teve faltas disciplinares. Em 2004 e 2008, foi registado desobediência “grave” e “leve”, respectivamente, a servidores. Já no ano de 2013, ele teria entrado em cela alheia e dificultado a vigilância, mas foi absolvido. O último registro foi em abril de 2018 com o crime em regime aberto.


RECEBA NOTÍCIAS NO SEU WHATSAPP!
Receba gratuitamente uma seleção com as principais notícias do dia.

Mais sobre Direito