Qual a verdadeira intenção de um candidato que gasta cerca de 700 mil reais em uma campanha política em uma cidade com menos de 2 mil habitantes? Essa é uma pergunta que faz muitas pessoas refletirem sobre os motivos que impulsionam a política no Brasil, principalmente em pequenos municípios onde o poder econômico dos eleitores é reduzido e a infraestrutura é limitada.
O cargo de prefeito de uma cidade pequena traz consigo responsabilidades, desafios e um salário que está abaixo de 15 mil reais mensais. Considerando o valor investido em uma campanha que gira em torno de 700 mil reais, a conta simplesmente não fecha quando o objetivo é visto apenas pelo prisma financeiro. Em termos estritamente matemáticos, mesmo que o prefeito cumpra um mandato de quatro anos, não conseguirá sequer recuperar o montante investido com o salário de prefeito. Portanto, surge a dúvida: qual o verdadeiro lucro almejado?
Quando olhamos de forma mais profunda, percebemos que o retorno pode não ser somente financeiro, mas sim, um retorno de poder e influência. Controlar a prefeitura de uma cidade significa ter acesso ao orçamento municipal, definir onde os recursos serão aplicados, ter poder sobre nomeações e contratos. Mesmo em cidades pequenas, o controle sobre licitações, contratos de serviços e obras públicas pode oferecer oportunidades para estabelecer relações lucrativas e parcerias que vão além do salário em si. Além disso, para muitos candidatos, assumir a prefeitura pode ser um trampolim político, criando um currículo para cargos maiores no futuro, onde as recompensas podem ser muito mais substanciais.
Outro ponto relevante é que, em muitos casos, existe uma intencionalidade de preservação de interesses familiares ou empresariais. Muitas famílias em pequenas cidades possuem negócios que dependem diretamente das decisões políticas locais, seja em relação a isenção de impostos, concessões ou até mesmo contratações. Nesses contextos, o investimento em uma campanha pode ser visto como um meio de proteger ou expandir esses interesses.
É importante refletir sobre os efeitos desse tipo de investimento no processo democrático. Quando um candidato está disposto a gastar quantias elevadas em uma campanha, fica evidente que a competição não se dá mais em termos de propostas ou capacidade administrativa, mas sim, em termos de quem tem mais recursos para investir.
Isso gera um desequilíbrio e afasta aqueles que poderiam ser bons gestores, mas não dispõem de recursos financeiros para competir em igualdade de condições.
A população precisa estar atenta a esses fatores e questionar as intenções por trás dos gastos milionários em campanhas para cargos que não parecem justificar, economicamente, tal investimento. Em uma sociedade democrática, o voto consciente e o acompanhamento das ações dos eleitos são ferramentas essenciais para evitar que o interesse particular se sobreponha ao interesse coletivo.