Há muito tempo venho refletindo sobre a forma como a mídia aborda as facções criminosas, como o PCC e o Comando Vermelho, rotulando-as como "crime organizado". Essa nomenclatura sempre me causou inquietação, pois ela sugere uma estrutura eficiente, meticulosamente planejada, que funciona como uma engrenagem bem azeitada. E, ironicamente, muitas vezes, parece que esse "organizado" se aplica mais às facções do que ao próprio Estado.
A pergunta que não quer calar é: e o que pensar do Estado? Estaria ele, então, desorganizado? Quando olhamos para as constantes falhas nos serviços públicos, a lentidão nas respostas às demandas sociais e a ineficiência na execução de políticas essenciais, é difícil não fazer essa comparação. A falta de planejamento, o desperdício de recursos e a ausência de coordenação entre os poderes parecem indicar que, enquanto o crime se organiza para explorar brechas, o Estado, que deveria combatê-lo e proteger seus cidadãos, está muitas vezes à deriva.
Essa reflexão não é uma defesa das facções, muito pelo contrário. O que me preocupa é que, ao chamar o crime de "organizado", estamos, talvez, esquecendo de cobrar do Estado a mesma organização. É fundamental que nós, enquanto sociedade, questionemos essa lógica e exijamos um Estado que se organize melhor, que seja eficiente e que, acima de tudo, cumpra seu papel de garantir a segurança e o bem-estar de todos.
Será que não chegou a hora de reorganizar o que realmente importa?