Militares próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atuaram na coordenação financeira e operacional de atos antidemocráticos após o resultado das eleições de 2022, segundo a Polícia Federal (PF).
A conclusão é citada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes na decisão que autorizou a deflagração, nesta quinta-feira (8), da Operação Tempus Veritatis.
Em conversas obtidas pela PF, o major Rafael Martins e o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, falam sobre destinar R$ 100 mil para cobrir gastos de hotel e alimentação de manifestantes.
Segundo o órgão, Martins e Cid se reuniram com outros militares em Brasília em 12 de novembro de 2022 para "para tratar de assuntos relacionados a estratégia golpista". Dois dias depois, os dois teriam trocado mensagens sobre a "necessidade de recursos financeiros".
Cid pediu uma estimativa de gastos e perguntou se R$ 100 mil seriam suficientes para cobrir os custos de hotel, alimentação e material dos manifestantes. "Entorno [sic] disso", respondeu Martins.
"Rafael Martins contatou Mauro Cid, solicitando recursos financeiros estimados no montante de R$ 100.000,00 [cem mil reais], para custos com hotel, alimentação e material. Em tal oportunidade, Mauro Cid aproveitou para orientá-lo a trazer pessoas do 'Rio'", afirma a PF.
E segue: "Segundo a autoridade policial, esses elementos, em corroboração com outros, revelam indícios de que o major Rafael Martins de Oliveira atuou de forma direta no direcionamento dos manifestantes para os alvos de interesse dos investigados, além realizar a coordenação financeira e operacional para dar suporte aos atos antidemocráticos e arregimentar integrantes das Forças Especiais do Exército para atuar nas manifestações, que, em última análise, não se originavam da mobilização popular".
No dia 15 de novembro, apoiadores de Bolsonaro realizaram atos antidemocráticos que pediam um golpe de Estado das Forças Armadas após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais.
No dia das manifestações, mensagens obtidas pela PF mostram que Martins disse a Cid que estava "com as necessidades iniciais". Ele encaminhou ao então ajudante de ordens de Bolsonaro um documento protegido com senha, intitulado "Copa 2022".
Martins orientou Mauro Cid a apagar posteriormente as mensagens, "com o objetivo de suprimir as provas dos ilícitos praticados", revela ainda a PF.
"Aquele valor de 100 se encaixa nessa estimativa", segue Martins. Cid, então, responde: "Preciso urgente". O major segue: "ok. Incluso [sic] vou transferir o material em dinheiro. Além da locomoção".
O órgão argumenta que o diálogo revela "fortes indícios" de envolvimento direto de Rafael Martins "direcionando os manifestantes para os alvos de interesse dos investigados, como STF e Congresso Nacional, além de realizar a coordenação financeira e operacional para dar suporte aos atos antidemocráticos".
A Polícia Federal também cita indícios de que empresários do agronegócio teriam financiado os atos golpistas.
"No dia 16 de novembro, Mauro Cid enviou um áudio, possivelmente para o general Freire Gomes, pelo aplicativo Una, em que cita o financiamento das manifestações em Brasília, por empresários do 'agro'", diz o relatório.