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EXCLUSIVO - Médica que falou na ACIJ de Jales, revela passo à passo de como agirá a doença COVID-19 em nossa cidade.



O site A VOZ DAS CIDADES, ouviu a Médica Doutora Sandra Marcondes Carazzo.

Doutora Sandra ficou conhecida depois de participar na ACIJ - Associação Comercial e Industrial de Jales e revelar números assustadores do COVID-19 em Jales.

Por questão de prevenção solicitamos uma entrevista, mas a Médica explicou que mantém no seu dia, contatos com vários pacientes e desta forma enviaria texto sobre seu posicionamento com relação ao Coronavírus.

Sandra Maria Marcondes Carazo 
CRM 63048
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo 
Residência Clínica Médica UNIFESP, Escola Paulista de Medicina 
Residência Cirurgia Geral e do Aparelho Digestivo, Santa Casa de São Paulo 
Hospital Samaritano de São Paulo- 20 anos Cirurgia Geral e 3  anos Terapia Intensiva 
Em Jales 
Diarista UTI do Hospital do Amor- 3 anos e meio 
AME- Responsável pela Cirurgia Ambulatorial. Consultas de gastroenterologia e Cirurgia Geral.

 

Estamos numa situação muito difícil e inédita.

Ninguém de nós passou por uma pandemia.

Isso é diferente de epidemia.

Se é pandemia, significa que ninguém conseguiu encurralar o vírus até agora.

 Entendo as questões econômicas graves.

Entendo as perspectivas de que mortes silenciosas possam ocorrer após a pandemia devido ao problema financeiro.

A vida é o bem maior nosso, único e insubstituível.

Todos nós queremos viver!  

Os que analisam esta doença de forma evolutiva, projetam que no Brasil ela será grave.

Numa cidade pequena como Jales, se não nos isolarmos agora, em 4 semanas teremos perdido mais de 100 vidas por COVID-19.

Detalhe, só no começo.

Qualquer um de nós que adoecer na terceira semana, sofrer um acidente grave, tiver um infarto, tiver um AVC, tiver uma apendicite complicada, dengue, diabetes descompensado, infecção urinária, etc, não terá para onde ir. Isso significa dizer que podemos morrer de outras doenças que normalmente não nos matariam.

Você toparia correr o risco de ser um destes?

Imagine-se daqui  a 3 semanas com extrema falta de ar e não ter leito de hospital para te atender!

Um sistema de saúde colapsado funciona como se não existisse hospital.

O melhor sistema de saúde do mundo, no estado de Nova Iorque, não está dando conta. 

A gente sempre pensa que vai ser com o outro, né?

E se for com a gente?

Um isolamento social  agora parece alarmista, mas se for depois, será tarde. 

As pessoas na maioria preferem viver e tentar se recuperar financeiramente depois.

Estilo: falido tem solução,  falecido não. 

Interromper essa programação agora é deixar o tsunami levar todo mundo de uma vez.

Sabemos que São Paulo já está no caos.

Os óbitos computados são poucos, pois há um número enorme de mortos aguardando o resultado do exame no Serviço de Verificação de Óbitos. Lá o leite já derramou e é só o começo.

A curva vai explodir nos próximos 15 dias.

Talvez aqui no interior seja menos grave se segurarmos a velocidade de contaminação.

Daria tempo de colocar idosos e doentes crônicos "em cima do telhado", e fazer que a água do tsunami molhe aos poucos os que estão "fora do telhado".

A maioria vai sair nadando sem qualquer dificuldade.

Alguns vão precisar de coletes salva vidas (internação) e poucos de botes salva vidas (UTI).

Não tem coletes e botes sobrando.

Temos que salvar um afogado aqui e assim que desocupar o  equipamento, disponibilizá-lo para o próximo necessitado. 

Na minha humilde opinião, o mal de hoje é evitar mortes devido falta de estrutura de atendimento na saúde.

O mal de amanhã será recuperar a  economia. 

A estratégia de guerra deve ser revista diariamente, mas para especialistas, todos devemos nos esconder, a princípio, por 2 semanas. 

A minha vida é a coisa mais importante que tenho.

Quero cuidar bem dela. 

Doutora Sandra Marcondes completa suas informações, enviando relatos de colegas de São Paulo:

 

Amigos, segunda à noite houve uma conferência promovida pela XP Investimentos com os gestores do Hospital Albert Einstein, da Rede D’Or, Mater Dei e Dasa.
No meio de tanta desinformação, ouvir os especialistas é absolutamente importante. Informação de qualidade. 
Eu assisti,  durou 1 hora e 20. 
Segue aí um resumo:
 
1. Todos foram unanimes em relação a necessidade do isolamento social, mas divergiram com relação a necessidade de lockdown maior do que 15 dias; Mas 3 dos 4, ainda que com cautela, disseram que se a curva de contaminação se comportar bem nos próximos 15 dias, o período de lockdown poderia não ser estendido para todos (só para mais frágeis), porque julgam importante demais o evitar estrago na economia/empregos etc. Achei eles muito bem ponderados ao considerar esse trade-off. Achei bem positivo. Deram a entender claramente que existe chance grande de ter lockdown seletivo apenas, etc. Mas o Presidente do Hospital Einstein acha prematuro decidir o período do isolamento, pois o Einstein estará com sua estrutura de terapia intensiva possivelmente colapsada em torno do dia 15 de abril. E teme muito a estrutura pública que ainda não foi tão afetada, pois diz que o vírus atingiu sobretudo por enquanto as classes A e B, que estavam viajando e ainda não penetrou fortemente nas classes C e D.
 
2. E sobre efeitos da HCQ (hodroxicloroquina), apenas disseram que é caso a caso, estão administrando quando família/paciente quer, e que preferem esperar mais dados antes de se pronunciarem sobre a efetividade desses anti-virais e coquetéis. Um deles, ao responder sobre uso profilatico, nao negou que poderia funcionar em profilaxia , apenas disse que era melhor deixar para quem precisa mais etc.
 
Seguem as observações deles, vale ler:
 
Dr. Romeu Côrtes Domingues, Presidente do Conselho de Administração da DASA.
 
- O Padrao ouro do teste diagnóstico é o PCR (naso faringe)

- PCR pode ser positivo do 2/3 dias de sintomas até dias 14º . No 7o. dia a carga viral está no ápice.

- Já restringiram testes; só fazendo em hospitais e com pessoas sintomáticas.

- Sabe que o ideal seria fazer em todo mundo, estão tentando aumentar importação de reagentes e de maquinas de Testes rápidos: com sangue, mede IGG e IGM (ImunoGlobulinas - anticorpos que o organismo produz quando entra em contato com algum vírus) desenvolvido na Korea e China

- Depois da fase aguda o PCR deixa de ser importante e tem q olhar o IGG/IGM.

- No Brasil 8 empresas pediram licença ANVISA pra trazer estes testes rápidos.

- Mundo ideal é poder fazer teste de PCR em larga escala; interação grande com setor publico é importante pra isso; importante fazer diagnostico de pessoas que tiveram contato com gente infectada ou de pessoas com sintoma, como a Coreia fez; para saber se pessoa pode voltar a sair, é o teste de detecção de IGG, o teste rápido.

- Telemedicina ajuda muito a reduzir a ida desnecessária ao hospital; nao substitui em todos casos a presencial, mas ajuda muito a dar orientacao e está entrando com como uma boa ferramenta.

- Nao faz sentido tomar a HCQ profilaticamente pq vai faltar pra muitas pessoas em pior condicao (mas nao disse que nao seria profilático).

- Vê com otimismo as próximas semanas
- trabalho que o Ministério da saúde está fazendo é fantástico

- Impacto do clima: não sabe dizer se calor ajuda ainda; infelizmente parece que isso não tem correlação.
 
 
Dr. Sidney Klajner, Presidente do Albert Einstein.
 
- 80 casos suspeitos (mais de 50 confirmados) no Einstein.

- Têm investido em UTIs

- artigo publicado mostrou que até 86% dos infectados sao assintomáticos.

- Se pudesse testar todo mundo, nao precisaria fazer lockdown, poderia isolar só os infectados. 


- Ninguem sabe se é melhor lockdown somente para os mais idosos; estao todos ainda com opinioes mas nao dá pra saber.

- Na curva atual, dia 15 de Abril ja estouraria a capacidade de UTIs no Brasil, esse é o problema, e isso, com confinamento e com os novos leitos de hospitais de campanha em estacionamentos, etc.

- Falta de capacidade de rastrear com celular quem esta contaminado etc, como a China fez e dificulta muito fazer algo mais targetted.

- O confinamento foi na pratica uma trégua para poder capacitar o sistema de saude.

- “A unica certeza q eu tenho eh que eu estou cheio de duvidas”

- Tudo vai ter que ser reavaliado em 15 dias.


- UTIs do Brasil por habitante é o 4º maior do mundo, mas mto concentrado no setor privado e em algumas capitais.

- Muitas vezes o tiro para matar a doenca mata o paciente, entao tem q ver qual será o impacto economico do lockdown. Mas cedo pra tomar essa decisão .

- Leitos q estao sendo feitos nos hospitais de campanha sao de baixa a media complexidade, nao sao pra casos graves;

- Projecoes estao sendo feitas diariamente.

- HCQ: estudo começando hoje, estudando 4 frentes; vai comparar uso da HCQ com ou sem Azitromicina; Vai testar uso em pacientes de media complexidade, testar uso profilático; e vai ter teste em mais de 2k pacientes de UTI tb.
 
 
Henrique Salvador, Mater Dei Hospital
 
- No começo faz sentido isolar todo mundo mesmo.

- Em um segundo momento dá pra isolar só os que têm mais risco, e faz todo sentido para a economia ; até para dar tempo de preparar o sistema de saúde.

- Concorda com Sidney que terão que avaliar impacto economico do lockdown.

 - O Japão é mais liberal em seu isolamento social; Temos que ir aprendendo com o que esta acontecendo em países que estao na frente na curva de contaminação.

-  Não há evidencia cientifica ainda suficiente para o uso de nenhum remédio; mas ao longo do protocolo se estiver ficando claro que é bom, mesmo dentro do ambiente da pesquisa, vao começar a usar em larga escala.

-  Segregar as pessoas de maiores riscos provavelmente sera feito se a doença evoluir bem no Brasil nas próximas semanas, de forma mais gradual, ele acredita.
Mas cedo pra tomar uma decisão .
 
 
Dr. Leandro Reis, vice-presidente da Rede D’OR
 
- Dado que a ultima experiencia de pandemia ocorreu há mais de 100 anos, ninguém tem uma resposta perfeita e nem todas as respostas de como agir nesse momento.

- Não questionaria o distanciamento social neste momento. Mudar estratégia só daqui a uns meses.

- Acha que 15 dias é pouco,  provavelmente. Probabilidade grande dessa quarentena ser renovada.

- Asia teve períodos mais longos que 15 dias para conseguir controlar.

- Curvas de disseminação aqui parece semelhante com a de paises europeus.

- Comportamento do virus é muito diferente de vírus da gripe.

- Paciente com suspeição elevada tem q fazer tomografia de tórax.

- Diante das evidencias sobre o HCQ, Familia e pacientes qdo conseguem falar, aceitam tomar “droga de compaixão”, por fazer uso da HCD com Azitromicina; 
Situação delicada, que requer muita responsabilidade; Sim, estão usando com muitos pacientes, e disponibilizando o material sobre HCQ para os medicos; mas é muito caso a caso.

- Mas é cedo (seria excêntrico) ficar declarando resultados sobre os resultados desses remédios ainda.

- Muitos morrendo de embolia pulmonar.

- Pode ser que alonguem por mais de 15 dias, pode ser que decida se isolar só os mais frágeis, ou fazer sequencial, etc; mas existe um grau de subjetividade politica nessa decisão; e não tem dados pra ser decidido muito facilmente nem um lado nem o outro.

- Prazos longos de isolamento social esgarçam relações econômico-sociais.

- Deixar todo se contaminar tb seria incivilizado; muito radical, na opinião dele. 

- Primeiros dados mostram que existe imunidade para quem já se contaminou, mas conhecem mto pouco do vírus ainda pra afirmar; não pode subestimar a capacidade dos vírus de terem peculiaridades.

- Corona chegou no Brasil no momento do pico da contaminação sazonal de gripes diferentes; importante tomar vacina tb p/ não confundir Corona com Gripes etc.


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