A temperatura política subiu de vez na Câmara Municipal de Jales. Nos últimos dias, ficou claro que o clima entre os vereadores começa a se tornar mais hostil — não apenas no embate tradicional entre situação e oposição, mas dentro do próprio plenário, entre os próprios colegas de parlamento.
A faísca inicial partiu da autodeclaração de um grupo de vereadores como “G3”, o que deixou no ar duas interpretações possíveis: ou esse trio se coloca agora oficialmente como oposição à administração municipal, ou decide assumir confronto direto com a maioria formada pelo chamado “G7”, bloco que tem conduzido a maioria das votações e posições na Casa. Vale lembrar que esse modelo de grupos internos já provocou efeitos desastrosos no passado recente, quando o chamado “G4” – formado por Bruno de Paula, Bismark, Carol Amador e Hilton Marques – implodiu e três dos seus membros acabaram politicamente derrotados.
Outro fator que chama a atenção são as constantes viagens dos vereadores a Brasília e São Paulo. Embora legalmente amparadas e, em tese, destinadas à busca de recursos, essas viagens parecem ter distanciado alguns parlamentares da realidade local. O Presidente da Câmara e a vereadora Franciele Villa, por exemplo, foram alvos de críticas por se pronunciarem nas redes sociais sem antes verificar a procedência das demandas populares.
O episódio mais recente girou em torno da falta de médicos, especialmente pediatras, nas unidades de saúde de Jales. Um debate legítimo, sem dúvidas, mas que parece ter sido conduzido de forma apressada. O que os parlamentares deveriam saber — e alguns sabem muito bem — é que a maioria dos médicos que atuam no SUS são contratados de forma temporária, sem vínculo efetivo. Isso significa que estão sujeitos a receber propostas de trabalho mais vantajosas em outros municípios, o que aconteceu no caso citado. O pediatra simplesmente aceitou uma proposta melhor. O Executivo, segundo apurado, já teria providenciado a contratação de um novo profissional, que deve iniciar atendimento ainda nesta semana.
O debate, no entanto, descambou para um terreno perigoso. A vereadora Andrea Moreto, que apenas se absteve em um requerimento apresentado por Franciele Villa, tornou-se alvo de ameaças. Ela recebeu mensagens intimidadoras em seu celular, e, posteriormente, um vídeo enviado por um blogueiro de Santa Fé do Sul, que afirmou estar na esquina de sua casa — em tom claro de ameaça velada. A parlamentar registrou um boletim de ocorrência na Delegacia Seccional de Jales, que agora investiga o caso como ameaça contra autoridade pública.
E, como se não bastasse, Andrea Moreto ainda foi alvo de uma tentativa de difamação institucional: uma pessoa compareceu aos Correios de Jales com o claro intuito de prejudicá-la, em mais uma ação que reforça o ambiente de perseguição instalado nos bastidores da política local. O caso acendeu um alerta ainda mais grave: a democracia, lentamente, parece estar dando lugar à intimidação, à ameaça e ao jogo sujo que tenta calar as vozes dissonantes por meio do medo.
A Câmara de Jales dá sinais de estar entrando numa nova fase, onde a disputa interna ameaça sobrepor a missão principal dos vereadores: representar e defender os interesses da população com responsabilidade, equilíbrio e compromisso com a verdade.