Polícia

Cozinheira usada como 'laranja' em Rio Preto era dona de empresa de R$ 84 milhões



Dois contadores de Rio Preto são suspeitos de criarem empresas fantasmas para sonegar impostos para uma grande exportadora de borracha de Minas Gerais. Em um dos casos, uma auxiliar de cozinha, sem saber do esquema, consta como dona de uma empresa de fachada de R$ 84 milhões de faturamento anual.

Os escritórios dos contadores, nos bairros Vetorazzo e Alvorada, foram alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos na manhã desta quarta-feira, 27, durante a Operação GEB-10 – Borracha Mineira, que foi executada pelos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Uberaba e Uberlândia (ambos de Minas Gerais) e de Rio Preto. Os nomes das empresas e dos contadores não foram divulgados. Ao todo, foram três mandados em Rio Preto e um em Fronteira (MG).

A investigação foi iniciada pelo Ministério Público de Minas após ser detectada uma suspeita de sonegação de impostos no setor de comércio de látex de seringueira, no montante de R$ 40,6 milhões. A empresa alvo da operação, em Fronteira, comercializou, sozinha, a partir de setembro de 2016, 52,3% de toda a borracha natural que saiu do estado de Minas Gerais, correspondente a 65,3 mil toneladas, no valor de R$ 356,05 milhões, gerando um ICMS no importe de R$ 40,6 milhões, valor não recolhido aos cofres mineiros.

Coordenador da operação, o promotor de Justiça Thiago Ferraz de Oliveira afirma que a investigação começou após a Coordenadoria Regional das Promotorias de Justiça de Defesa da Ordem Econômica e Tributária do Triângulo e Noroeste descobrir indícios de sonegação fiscal da maior exportadora de borracha de Minas Gerais.

“Os contadores de Rio Preto montam empresas de fachadas em nomes de laranjas. Hoje, chegamos a ouvir uma pessoa, muito simples, uma auxiliar de cozinha que ganha R$ 1,4 mil por mês. Foram movimentados em nome dela R$ 84 milhões em notas falsas. Ficou evidente que ela não sabia da existência da empresa em nome dela”, diz o promotor.

Os contadores criavam empresas de fachada em seis estados – Espírito Santo, Goiás, Bahia, Pará, Maranhão e São Paulo – que emitiam notas fiscais frias usadas para burlar o sistema da receita de Minas.

Para sonegar o imposto, a empresa comprava a produção de borracha natural dos produtores rurais mineiros e simulava comprar o mesmo produto das empresas de fachada, também conhecidas como “noteiras”.

O Ministério Público chegou até os contadores após descobrirem que todas as empresas de fachada eram abertas pelos escritórios contábeis de Rio Preto. Foram apreendidos durante os mandados de busca e apreensão HDs de computadores, pen-drives, celulares e documentação em papel de constituição das empresas e contrato social.

“A partir da junção destes documentos, com o que já temos em mãos, vamos cruzar as informações e dar sequência nas investigações. O intuito é apurar associação criminosa, falsidade ideológica, lavagem de capitais e crimes tributários”, disse o promotor. A partir da descoberta do conteúdo, o MP poderá solicitar mais mandados de buscas e apreensão e até de prisão.

O esquema

 

Como funcionava

  • Empresa compra produção de borracha natural dos produtores rurais mineiros
  • Ela também simula comprar o mesmo produto de empresas “de fachada”, também conhecidas como “noteiras”, localizadas principalmente nos Estados do Espírito Santo, Goiás, Bahia, Pará, Maranhão e São Paulo
  • A abertura dessas empresas ficava a cargo dois escritórios de contabilidade de Rio Preto
  • Os contadores usavam, em geral, o nome de pessoas simples que não sabiam do esquema
  • A suspeita é que a empresa tenha sonegado R$ 40 milhões de imposto desde 2016

 

Fonte: Ministério Público de Minas Gerais

‘Não sou dona de nada’,diz cozinheira

 

Manhã de quarta-feira, uma auxiliar de cozinha recebe a visita de policiais do Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar de Rio Preto (Baep). A mulher é levada até promotores de Justiça paulistas e mineiros, onde escuta a seguinte pergunta: “a senhora é dona de uma empresa? Pelo que levantamos, ela faturou R$ 84 milhões”.

Pelo olhar da cozinheira, os promotores tiveram a certeza de que ela sequer sabia do que eles estavam falando e seu nome tinha sido usado por um dos escritórios de contabilidade investigados para abrir uma empresa de fachada do esquema.

“Eu vi pelo jeito dela, uma mulher muito simples, que ela não sabia, que tinha sido usada para abrir a empresa. Vamos investigar como tiveram acesso aos documentos dela”, diz o promotor de Justiça Thiago Ferraz, do Gaeco de Minas Gerais.

Durante as investigações, o MP constatou que as empresas também não existiam nos endereços que constam em suas documentações de contratos sociais. (MAS)

Parte do material apreendido pelos policiais nos escritórios de contabilidade (Divulgação/MP-MG)


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