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"Câmara Municipal de Jales: O Palco das Contradições e a Farsa dos Títulos de Cidadão"



Quando homenagens viram moeda de troca, o mérito dá lugar ao oportunismo

Ontem, a Câmara Municipal de Jales provou mais uma vez que, entre suas prioridades, a coerência não figura nem como suplente. Em mais uma sessão recheada de discussões banais, eis que surge novamente o famigerado "título de cidadão jalesense" – uma honraria que, na teoria, deveria reconhecer aqueles que contribuíram de forma significativa para o município. Mas, na prática, parece mais uma espécie de medalha de mérito ao puxa-saquismo do momento.

Do "Não" ao Cantor Daniel ao "Sim" a Um Desconhecido

Nada poderia ilustrar melhor essa incongruência do que o episódio envolvendo o cantor Daniel, uma figura amplamente reconhecida não apenas por sua carreira artística, mas pelo trabalho beneficente que realiza, incluindo a dedicação ao Hospital de Amor, uma instituição que salva vidas e tem impacto direto na comunidade de Jales.

Pois bem, quando Daniel foi indicado para receber o título de cidadão jalesense, alguns vereadores – em uma exibição de miopia moral e política – votaram contra. Isso mesmo, contra. Um patrono do Hospital de Amor, um ícone nacional de generosidade e caridade, teve que enfrentar o veto de meia dúzia de edis que, aparentemente, confundiram o papel do título com uma oportunidade de implicância mesquinha.

Felizmente, a maioria prevaleceu, e o cantor recebeu a honraria em plena Expô Jales, mas a mancha da recusa inicial ficou como um retrato das prioridades distorcidas que governam a Casa de Leis.

Agora, passemos para a sessão de ontem, onde a incoerência atingiu novas alturas: o título de cidadão jalesense foi concedido ao deputado Nilto Tatto – um nome que, sejamos francos, nem mesmo grande parte da população local reconhece. Alguém consegue apontar qualquer contribuição relevante dele para Jales? Qual foi a justificativa? Um projeto de lei transformador? Uma doação milionária? Um discurso inspirador? Nada disso.

A Farra das Homenagens Sem Sentido

O problema não é só o "quem", mas o "como". Homenagens como essa, que deveriam ser reservadas a indivíduos que realmente marcam a história da cidade, acabam desvalorizadas quando entregues de forma tão leviana. A concessão de títulos se transformou em um jogo político, uma troca de favores, ou, pior, uma tentativa de agradar potenciais aliados para futuras campanhas.

E o mais grave: a Câmara parece não se importar com o impacto que essas decisões têm sobre a imagem da instituição. Enquanto figuras de verdadeiro mérito enfrentam resistência, políticos com pouca ou nenhuma conexão com a cidade recebem títulos de cidadão como se fossem brindes de festa de aniversário.

O Silêncio Ruidoso da População

O que talvez cause mais desconforto – ou, para alguns, resignação – é o silêncio da população diante dessas manobras. Poucos se manifestam, poucos cobram explicações, e, assim, a Câmara continua navegando em um mar de mediocridade, sem ser incomodada. Quando a imprensa questiona, os vereadores reagem com justificativas genéricas, como se não devessem satisfações à cidade que representam.

Reflexão: Um Título Desvalorizado

Em tempos em que a política deveria se esforçar para reconquistar a confiança pública, episódios como este mostram que a Câmara de Jales caminha na direção oposta. Homenagens esvaziadas de sentido e decisões que privilegiam interesses particulares enfraquecem ainda mais a já desgastada relação entre representantes e representados.

Será que a população de Jales se contenta em assistir de braços cruzados a essa farra? Ou será que chegou a hora de exigir que títulos de cidadão jalesense – e as decisões da Câmara como um todo – voltem a refletir mérito, relevância e justiça?

O título de cidadão deve ser uma honra, não um agrado. Até lá, continuaremos assistindo ao espetáculo tragicômico das homenagens sem causa – um teatro onde os aplausos vêm apenas de quem está no palco, enquanto a plateia, cada vez mais vazia, segue desacreditada.

 

 


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