Começou a nova legislatura e, em vez de um rumo claro, o que se vê no plenário é desorientação. As manchetes que saem de Jales quase sempre chegam por terceiros — blogs regionais, influenciadores de fora — e têm algo em comum: são notas sobre vereadores ansiosos por curtidas, não por conquistas. É o fenômeno dos “vereadores de Facebook”: perfis sempre ativos na rede, mas discretos quando o assunto é projeto concreto.
Divergências ideológicas fazem parte do jogo democrático; ciúmes de palco, não. Quando a vaidade sobe à tribuna, o debate desce de nível. E, sem uma presidência capaz de mediar com isenção, o resultado é um Legislativo que tropeça nas próprias vaidades. Em vez de audiências públicas robustas ou fiscalizações incisivas, multiplicam‑se fotos em Brasília, posts em São Paulo e promessas que jamais aterrissam em solo jalesense.
O reflexo disso chega rápido às ruas: cidadãos descrentes, sessões esvaziadas de participação popular e a sensação de que o mandato serve mais ao álbum de viagem do que à cidade. Cada selfie publicada é uma chance perdida de mostrar relatório de economia ao erário, proposta de lei bem fundamentada ou solução para problemas crônicos, da saúde básica aos buracos históricos.
Fica então o convite à reflexão — para os dez vereadores, para o eleitor que delegou sua voz e, sobretudo, para quem ocupa a cadeira de presidente da Casa. Ego inflado não tapa buraco, curtida on‑line não ilumina rua escura e vaidade não paga remédio em posto de saúde. Se a Câmara quiser resgatar sua relevância, terá de trocar a lente do celular pela lupa da responsabilidade pública. Caso contrário, o tempo passa, os egos inflamam‑se ainda mais… e o povo segue, apenas, reclamando.