Uma bandeira do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) envolta na estátua do Monsenhor Albino provocou reações de conservadores e até da Diocese de Catanduva, que considerou o episódio ofensivo. O fato aconteceu durante o ato "Justiça por Moïse" contra o racismo e a xenofobia no último sábado, 12, na praça Monsenhor Albino, no Centro da cidade.
O bispo da Diocese de Catanduva, Dom Valdir Mamede, enviou ao presidente da Câmara, vereador Gleison Begali (PDT), na última segunda-feira, 14, um documento solicitando retratação por parte da vereadora Taíse Braz (PT), uma das organizadoras do protesto, em relação ao episódio
No documento, o bispo manifestou "estranheza e descontentamento" com o fato. De acordo com ele, "a memória da venerável figura do Monsenhor Albino foi ofendida e a fé dos cristãos católicos vilipendiada, em grave afronta aos princípios constitucionais estabelecidos no direito pátrio".
O religioso, no entanto, lembrou que o uso da praça para a manifestação foi autorizado pela Igreja, o que causa "ainda mais, estupefação".
O ato
O ato "Justiça por Moïse" foi organizado pelo Movimento Negro Catanduva (MNC), em parceria com o Psol, PCB, Juventude PT e Núcleo PT em Movimento locais em defesa do congolês Moïse Kabagambe, assassinado brutalmente em um quiosque na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.
O jovem foi amarrado e espancado até a morte porque cobrou o salário atrasado. De acordo com uma publicação do movimento de Catanduva em convite ao ato, o caso evidenciou "como o racismo estrutura nossas relações e como o Brasil reproduz a dinâmica da casa grande e da senzala a céu aberto".
Repúdio
Após o ato, o candidato a prefeito derrotado nas eleições de 2020 em Catanduva, Ricardo Rebelato (PP), criticou o uso da bandeira do Psol na estátua. "Vivemos em um país onde a Constituição Federal nos garante liberdade e também a de expressão, porém limites não podem jamais serem ultrapassados", escreveu o empresário em seu perfil no Instagram.
Rebelato repudiou a manifestação, que, segundo ele, foi liderada pela vereadora Taíse Braz. Na postagem da rede social, o político diz que "militantes do PSOL desrespeitaram a estátua do Monsenhor Albino" e afirmou que "Catanduva deve respeito a esse santo homem que aqui viveu, suas obras estão vivas e dando frutos até hoje".
Procurada pela reportagem, a assessoria de Ricardo Rebelato disse que o empresário não é contra a manifestação contra o racismo e a xenofobia. "Todos têm o direito de se manifestar, de defender a sua ideologia ou seu grupo, porém a forma como foi finalizado aquele protesto colocando uma bandeira do Psol na estátua do monsenhor Albino foi totalmente desrespeitosa", reforçou o ex-candidato em nota.
Movimento fala em 'ataque pessoal'
O Diário tentou falar com a representante do Movimento Negro Catanduva (MCN) e com a vereadora Taíse, que não quiseram se manifestar. Em nota publicada nas redes sociais, o MNC repudiou a fala de Rebelato e chamou o posicionamento de "ataque pessoal e individual, camuflado pelo discurso de boas práticas" à integrante do grupo Taíse Braz.
Segundo o MNC, a situação "demonstra a preocupação com a auto promoção, a partir de uma ação difamatória". "O ato estava composto por diversos partidos e movimentos, mas somente uma pessoa foi atacada. Essa pessoa é uma mulher negra e vereadora", disse.
De acordo com o grupo, o ato teve a iniciativa por instituições sociais e partidos, sendo uma ação coletiva, "contendo a presença também de aliados conhecidos nacionalmente: Movimento Negro Unificado, representando a região de Rio Preto".
O movimento acrescentou, ainda, que a ação foi autorizada por meio de ofício e iniciou com a panfletagem no Centro de Catanduva, sendo encerrada por uma roda de conversa, onde foi discutido sobre a violência racial no Brasil, que "assassinou Durval e Moïse em menos de duas semanas".
"O ato proposto levava a reflexão sobre o racismo que assassina e finda a vida de pessoas negras. Demonstramos todo o apoio ao membro do MNC", informou o grupo.
Partido disse que errou e pede desculpas
Procurado pela reportagem, o Psol Catanduva afirmou que os manifestantes se reuniram próximo à estátua de Monsenhor Albino pois era o único local onde havia sombra, por volta das 11h30. "Em nenhum momento, os participantes tiveram a ideia de desrespeitar ou partidarizar a figura do Padre Albino, que faz parte da história da cidade e tem relevância incontestável para a população. Nosso protesto pregava amor ao próximo, algo que Padre Albino sempre pregou. Amar o próximo é se indignar com a violência sofrida pelo outro", afirmou o partido.
O Psol disse ainda que a intenção no foi ofender a memória do religioso. "Pedimos desculpas a todos e todas que se ofenderam com o fato da bandeira do PSOL estar sobre a estátua. Erramos, mas queremos deixar claro que nossa intenção não foi, em hipótese alguma, ofender a memória de nenhuma figura pública da cidade. Seguimos na luta por uma vida digna e justa para todos os seres humanos, independentemente da cor da pele, classe social ou religião", completou.