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A INICIAÇÃO CIENTÍFICA E O ENSINO SUPERIOR



Qual o principal desafio de um curso superior hoje? A resposta, obviamente, deve levar em consideração as especificidades e contextos regionais dos cursos. No entanto, a dinâmica atual, marcada por um viés imediatista que se agravou com a pandemia do Covid19, não deixa dúvidas, apenas a aquisição de um conhecimento pronto não basta, é fundamental formar indivíduos que sejam dotados de capacidade para buscá-lo na medida de suas necessidades e saber empregá-lo. 

Nesse sentido, a atividade da Iniciação Científica se constitui no coração de um curso superior. Saber questionar, problematizar, utilizar materiais e métodos é essencial para que um profissional se destaque no mercado de trabalho. Saber trilhar os caminhos da pesquisa abrem horizontes e instrumentaliza o profissional a encontrar as respostas mais adequadas aos novos desafios. 

A sala de aula tende a deixar de ser o espaço do espetáculo da sapiência docente e se constitui em laboratório do aprendizado. A didática perfeita, encantadora só será eficaz se ela despertar para consciência que todo conhecimento é temporal e como tal se esvai. Sendo assim, cada conteúdo curricular nunca será suficiente, constituindo-se cada vez mais em campo de investigação. Se o futuro é o lugar do desconhecido caberá ao pesquisador a capacidade de formular, analisar dados, levantar hipóteses e indicar descobertas. O profissional ideal será aquele capaz de saber avançar. 

Não cabe aos cursos superiores, como formadores de profissionais de ponta, reforçarem conteúdos que foram difundidos e transmitidos na educação básica, mas aprofundar o conhecimento de sua área específica, avaliar sua relevância social e oferecer novos caminhos para contemporaneidade. A experiência que carrego em 30 anos de trabalho com a pesquisa e outros 20 junto a coordenação de programa de incentivo a pesquisa, tem revelado que a pesquisa científica precisa deixar de ser um percurso restrito a um grupo seleto de acadêmicos com o propósito de ser seguir carreira estritamente acadêmica e passar a ser uma condição para um bom posicionamento profissional no futuro. 

Concluindo, somente quem desenvolve as habilidades que o conduz a descobertas e produção de conhecimento será capaz de avaliar com mais lucidez a utilização dos saberes produzidos, bem como de buscar inovações que atendam às demandas do momento. Isso é comum a todas as áreas. Vivemos um mundo em que a nossa capacidade de reavaliar e discernir será cada vez mais testada e estar preparado para esse desafio é fundamental.  O artigo 207 da Constituição de 1988 já aponta na formação superior a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Mas durante muito tempo a pesquisa foi levada a sério apenas nas universidades com consolidados programas de Mestrado e Doutorado. No entanto, com a revolução tecnológica e dos caminhos da ciência no pós-pandemia, não é concebível um curso superior que não prepare seus formandos para serem capazes de produzir conhecimento. 

Prof. Dr. Silvio Luiz Lofego 


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